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"Peitos e pintos saindo da tela!": Um dossiê quase completo sobre filmes de sacanagem em 3-D

"Peitos e pintos saindo da tela!": Um dossiê quase completo sobre filmes de sacanagem em 3-D


(Dica: Se você tiver um daqueles velhos óculos 3-D de papelão em casa, aproveite para ver as fotos desse texto em terceira dimensão!!!)

Na atualização da semana passada do FILMES PARA DOIDOS, falei sobre o filme X-Rated "Princesa Orgasma e a Cama Mágica", e aproveitei para fazer uma das minhas tradicionais críticas aos jornalistas culturais brasileiros da atualidade. Desta vez, foi por causa da desinformação dos sujeitos: eles divulgaram que uns produtores chineses estão fazendo AGORA o suposto "primeiro filme pornô 3-D da história do cinema", ao invés de pesquisar e saber que isso (sacanagem tridimensional) não é mais novidade.

Bem, ironicamente, o tiro saiu pela culatra: ao mesmo tempo em que eu xingava os caras pela sua costumeira desinformação (porque eles compraram a ideia de que o pornô 3-D chinês era o primeiro sem nem ao menos pesquisar), EU MESMO caí no erro de afirmar que "Princesa Orgasma..." era o primeiro pornô 3-D da história. Não, não é. Mea culpa.


Quem me alertou para o fato foi o super-cinéfilo e enciclopédia viva sobre assuntos cinematográficos obscuros Hugo Malavolta, da Fundação Malavolta Archives. Segundo ele, já havia pornô 3-D desde a década de 70, embora desde os anos 1960 os caras façam filme de sacanagem com efeitos em três dimensões - nesse caso, apenas peitos sacudindo "para fora da tela", sem mostrar aquele troço entrando naquela coisa...

Chocado e envergonhado com meu próprio erro de informação, e para compensar os distintos leitores do FILMES PARA DOIDOS, passei os últimos dias preparando este dossiê sobre pornografia em 3-D, fruto de madrugadas insones de pesquisa profunda e também da análise de um extenso material sobre o assunto que o próprio Hugo me mandou.


Espero que esse dossiê fique como referência, já que há pouquíssimas fontes (para não dizer nenhuma) sobre o tema na internet. No futuro, quando aqueles jornalistazinhos preguiçosos pesquisarem "pornô 3-D" no Google, vão inevitavelmente cair aqui e se informar direitinho, para parar de escrever merda nos grandes jornais e portais de internet do país.

Mais uma vez, o trabalho sujo e pesado eu já fiz DE GRÁTIS para quem tiver interesse e quiser se informar. Agora é esperar que esses jornalistas de quinta categoria parem de escrever e publicar besteira - e que pelo menos me deem o devido crédito caso citem esse material!


BREVE INTRODUÇÃO AO 3-D
Não pretendo esgotar o assunto, que é muito vasto e ao mesmo tempo muito xarope. Também não vou entrar em muitos detalhes técnicos sobre como funciona o 3-D ou sobre as diversas tecnologias desenvolvidas para dar a impressão das três dimensões. Quem quiser saber mais sobre isso pode pesquisar diretamente no site que é uma verdadeira bíblia de referência sobre o tema, o 3D Revolution.

Mas o que interessa é o seguinte: se você pensa que o 3-D no cinema começou só agora, através de filmes como "Avatar", saiba que as primeiras experiências com o processo começaram ainda no século 19!

Na época, um inglês chamado William Friese-Greene buscou o efeito através de uma técnica simples conhecida como "estereoscopia": duas imagens iguais eram projetadas lado a lado na tela, e, através de um aparelho colocado sobre os olhos (o estereoscópico), o cérebro do espectador "fundia" as imagens, gerando uma sensação de profundidade. Óbvio que ainda era um sistema bem arcaico...

Em 1915, um dos pioneiros do cinema narrativo norte-americano, Edwin S Porter, fez a primeira projeção em 3-D no formato como o sistema ficaria popular: com o público usando óculos de lentes coloridas. Porter, entretanto, não exibiu um filme, mas sim algumas cenas soltas apenas para testar. Com isso, a atriz do cinema mudo Marie Doro, que aparecia nestes fragmentos, tornou-se a primeira estrela a aparecer em três dimensões nas telas!


Em 27 de setembro de 1922 (portanto há quase 90 anos), estreou em Los Angeles aquele que é considerado o primeiro filme 3-D da história: o dramalhão "The Power of Love". Dirigido por Nat G. Deverich e Harry K. Fairall, era mudo e em preto-e-branco, mas as imagens já traziam faixas na cor vermelho e verde que, com o uso dos óculos especiais (com lentes azul e vermelho), davam a impressão de profundidade.

Para conseguir este efeito, dois pedaços iguais de filme eram projetados AO MESMO TEMPO um sobre o outro, exigindo o uso de dois projetores e muita atenção do projecionista para obter uma perfeita sincronia entre as imagens separadas.

Como o filme hoje está perdido, ninguém sabe exatamente como era o processo pioneiro concebido por Harry K. Fairhall e Robert F. Elder, e usado nessa única produção: pesquisadores acreditam que eles usaram filtros coloridos na hora da projeção, mas também podem ter pintado manualmente cada fotograma para criar o efeito 3-D!

Vários realizadores tentaram aprimorar o uso das três dimensões nos anos seguintes. Já foram encontrados até filmes de propaganda nazista em 3-D, supostamente filmados por volta de 1936!

Mas a Era de Ouro do 3-D no cinema começou em 1952, ainda no sistema dois projetores e duas imagens iguais sendo projetadas ao mesmo tempo uma sobre a outra. Acontece que a TV estava roubando o público das salas de cinema, e os distribuidores tinham que inventar algo novo que a televisão não pudesse oferecer. Resolveram apostar nos filmes em três dimensões.


O filme que iniciou a febre do 3-D na década de 50 foi "Bwana Devil" (1952), dirigido por Arch Oboler e estrelado por Robert Stack. Os críticos sentaram o pau, mas o público correu para os cinemas para ver trens saindo da tela e leões pulando para "dar o bote" no público.

"Bwana Devil" fez tanto sucesso que os grandes estúdios começaram a ver o potencial da brincadeira e resolveram produzir seus próprios filmes em terceira dimensão, lançando obras como "Museu de Cera" (1953), com Vincent Price, "Disque M Para Matar", de Alfred Hitchcock, e "O Monstro da Lagoa Negra" (1954, foto abaixo), entre outros.


Entretanto, apesar do aparente sucesso de público, os filmes em 3-D não tiveram vida longa na época, principalmente pelas dificuldades técnicas que o sistema exigia - como a projeção de dois rolos de negativo em perfeita sincronia para que o efeito funcionasse.

Os proprietários de cinema começaram a perder o interesse por causa da dificuldade de projeção, e o último grande filme em três dimensões do período foi "A Revanche do Monstro" (continuação de "O Monstro da Lagoa Negra"), que estreou em 1955.

Somente nos anos 60 o 3-D ganharia uma forma de exibição mais viável, quando surgiram diferentes técnicas que gravavam as duas imagens num único pedaço de negativo, projetado através de uma lente especial - eliminando, assim, aquele trabalhão de usar dois projetores e exibir duas tiras de filmes ao mesmo tempo e em sincronia.

Vários realizadores criaram e patentearam seus próprios sistemas de projeção em três dimensões, com nomes pomposos como Space-Vision 3D, Stereovision e Quadravision 4-D (!!!), mas sempre usando os já tradicionais óculos de papelão com uma lente vermelha e outra azul. Alguns desses sistemas eram "pega-trouxa" e não tinham nada de tridimensional, provocando apenas dor nos olhos (quando não na cabeça) do espectador.


Infelizmente, o 3-D já estava marginalizado àquela altura, e acabou relegado a produções baratas de horror ou mulher pelada, ou então as duas coisas juntas - o melhor exemplo é o clássico "Andy Warhol's Flesh for Frankenstein", de Paul Morrisey, repleto de tripas, peitos e pintos em três dimensões, como mostra a foto acima, da cena em que os órgãos internos de Udo Kier saíam da tela diretamente para cima do público!

Mas o sistema ganhou uma inesperada sobrevida na década de 80, e a culpa foi de um western spaghetti chamado "Comin' at Ya!", que estreou em 1981 e foi totalmente filmado em 3-D.

Uma espécie de refilmagem disfarçada de "Blindman" (1971), o filme italiano foi dirigido por Ferdinando Baldi e tinha no elenco Tony Anthony e Victoria Abril.

Não havia nenhuma novidade na obra além de espingardas apontadas para a fuça do espectador (foto abaixo) e bolinhas de sabão que saíam da tela graças ao "milagre" das três dimensões, mas mesmo assim o público comprou a ideia e correu para os cinemas, achando tudo aquilo muito divertido - à época, começava a febre do home vídeo graças ao VHS.


"Comin' at Ya!" fez tanto sucesso que produtores independentes começaram a bancar novas produções baratas em 3-D. Charles Band, por exemplo, produziu e dirigiu o horror "Parasite" (1982), com uma jovem Demi Moore no elenco, e a ficção científica bagaceira "Metalstorm: The Destruction of Jared-Syn" (1983).

Os grandes estúdios entraram na jogada e começaram a lançar os terceiros filmes de franquias consagradas em três dimensões, para poder usar "3-D" no título. São dessa época "Sexta-feira 13 - Parte 3" (1982, foto abaixo), "Tubarão 3-D" e "Amityville 3-D" (ambos de 1983). Todos eram lançados em vídeo em formato comum, e portanto perdiam a letra D do título. Taglines como "Uma nova dimensão em terror" viraram clichê.


Só que o público logo cansou da brincadeira - outra vez, diga-se de passagem. Afinal, na maior parte desses filmes, o 3-D era uma mera desculpa para ficar jogando coisas contra a câmera (e contra o espectador), sendo que essas cenas perdiam completamente a razão de existir quando o filme era posteriormente lançado em vídeo ou exibido na TV sem as três dimensões.

O formato só voltaria com força mais recentemente, no século 21, já com uma técnica mais moderna e em alta definição, sendo utilizado como arma de combate à pirataria de filmes pela internet (mais ou menos como foi uma alternativa contra a popularização da TV lá nos anos 1950 e contra o avanço do home vídeo nos anos 1980).

Porém, salvo raras exceções (como "Avatar" e "Resident Evil 4", que têm efeitos mais elaborados em três dimensões), a maior parte dos filmes em 3-D da atualidade são umas picaretagens bem parecidas com as de antigamente, com meia dúzia de coisas atiradas contra a câmera e nada muito além disso para justificar o alto preço do ingresso (mais caro quando o filme é em 3-D).



MULHERES PELADAS TRIDIMENSIONAIS
Não duvide do seguinte: no exato momento em que alguém disse "Inventei uma maneira de projetar filmes em três dimensões", um outro alguém, bem sem-vergonha, pensou "Então vou ter que dar um jeito de filmar uma trepada com esse sistema"!

Claro que demorou um pouco para que isso se concretizasse. Afinal, a popularização do cinema pornô hardcore só se deu a partir dos anos 1970. Antes disso, o máximo de ousadia em matéria de sacanagem eram inocentes filmes sobre nudismo ou comédias eróticas cheias de mulheres nuas (conhecidas popularmente como "nudies"), além de pornôs softcore onde a trepada era apenas insinuada, mas a penetração não aparecia em detalhes como nos pornôs hardcore.

Uma das primeiras produções de sacanagem a explorar a nudez feminina (e apenas isso) em três dimensões foi a comédia "Adam and Six Eves", de John Wallis, sobre um garimpeiro que se perde no deserto e encontra seis gatas peitudas (Gabrielle Benett, Marianne Bennett, Shelly Forbes, Leigh Sands, Lorraine Sheldon e Barbara Stanley) para minimizar o seu sofrimento.

Apenas algumas cenas de mulher pelada foram filmadas em 3-D; o restante era no formato tradicional, em 2-D mesmo. "Adam and Six Eves" foi gravado em 1960, mas não conseguiu lançamento comercial, provavelmente pela dificuldade em encontrar cinemas interessados em exibir filmes 3-D na época. Só chegou aos cinemas dois anos depois, em 1962, mas passou em formato "normal", sem os efeitos em três dimensões - mesmo assim, o pôster dizia: "Veja as seis Evas juntarem-se a você na plateia!".

Sendo assim, um dos primeiros filmes rodados em 3-D e exibidos em 3-D deve ser "The Bellboy and the Playgirls", comédia erótica que chegou aos cinemas norte-americanos em 1962. Hoje, a obra é mais conhecida por ter sido o primeiro trabalho de um jovem cineasta de 23 anos chamado FRANCIS FORD COPPOLA!

Pois antes de "Sombras do Terror" (1963) e "Dementia 13" (mesmo ano, e oficialmente seu primeiro filme), Coppola foi chamado por um distribuidor ianque para "melhorar" um velho filme alemão de 1958, chamado "Mit Eva fing die Sünde an" e originalmente dirigido por Fritz Umgelter.

Era comum, naqueles tempos, que distribuidores picaretas relançassem um mesmo filme estrangeiro duas ou três vezes, cortando ou adicionando cenas, mudando o título e o cartaz. Como não havia internet e IMDB, muita gente acabava vendo o mesmo filme duas vezes sem saber.

A pedido do tal distribuidor, Coppola filmou diversas cenas coloridas, em 35mm e em 3-D (o filme original alemão era em 16mm e em preto-e-branco!!!) com Don Kenney, a coelhinha da Playboy June Wilkinson (conhecida por, digamos, seus fartos atributos peitorais) e algumas outras anônimas peitudas que basicamente apenas sacudiam os melões para a câmera.

Estas cenas foram adicionadas na montagem do filme alemão e deram origem a "The Bellboy and the Playgirls", sobre o "bellboy" (carregador de malas) de um hotel que vive espionando as belas garotas que se hospedam no local - neste caso, modelos de lingerie nas cenas coloridas feitas por Coppola! O cartaz do filme traz uma frase que é um primor de marketing: "O 3-D coloca a garota no seu colo!".

Ainda em 1962, temos um outro exemplo de picaretagem fílmica: o nudie inglês "Paradisio" foi filmado por H. Haile Chace em preto-e-branco e "2-D", em várias partes da Europa (Alemanha, França, Itália, Áustria, Inglaterra, e em cada país era uma equipe diferente que filmava...).

Conta a história de um cientista (Arthur Howard) que utiliza um óculos especial de Raio-X para poder enxergar por baixo da roupa das mulheres (um ano antes de "O Homem dos Olhos de Raio-X", de Roger Corman).

Inofensivo, "Paradisio" tinha apenas umas cenas de mulher pelada aqui e ali. Mas os realizadores não conseguiram distribuição, então resolveram vender todo o material filmado, sem editar, para o produtor norte-americano Jack H. Harris, conhecido por financiar filmes baratos de horror (inclusive um tal de "A Bolha", de 1958...).

Vendo potencial na sacanagem e na moda das três dimensões, Harris filmou algumas novas cenas nos EUA, coloridas e em 3-D, a exemplo do que Coppola fez com "The Bellboy and the Playgirls". Segundo algumas fontes, entre estas cenas havia até sexo não-explícito. O cartaz vendia a proposta: "Tudo, mas TUDO MESMO, sai da tela em sua direção!".

"Paradisio" foi um inesperado sucesso de bilheteria nos EUA e no Japão. E, quem sabe, até inspirou os japas a fazerem seu próprio filme de sacanagem em 3-D. Pois em 1967, na terra do sol nascente, Kōji Seki dirigiu "Hentaima", ou "Perverted Criminal" (lançado em alguns países como "Abnormal Criminal").

Algumas fontes informam que é o primeiro filme em 3-D produzido no Japão, e também o primeiro filme da história com cenas de sexo em três dimensões (embora outras fontes indiquem que o pioneiro foi Jack Harris com suas cenas de sacanagem enxertadas em "Paradisio").

"Hentaima" é um pink film - nome dado aos filmes eróticos japoneses dos anos 60-70, que, por causa da forte censura no país, usavam de muita criatividade para esconder mais do que mostrar. O diretor Seki era um especialista nesse subgênero, e fez filmes como "Molester Invisible Man" (1977) e "Abnormal Sex Crimes" (1969).

A história acompanha um psicopata (Shūhei Mutō) que estupra e mata mulheres, muitas vezes praticando até necrofilia. A maior parte do filme é em preto-e-branco, mas as cenas de sexo e assassinato são em cores e com efeitos em 3-D!

Como "Hentaima" é uma produção obscura e provavelmente foi mal-lançado no resto do mundo, a fama de "primeiro filme com cenas de sexo em três dimensões" acabou ficando com o norte-americano "The Stewardesses" (1969), escrito e dirigido por Allan Silliphant aka Al Silliman Jr.

Mostrando a vida sexual de um grupo de bonitas aeromoças (entre elas, Christina Hart, Angelique de Moline e Donna Stanley), e com muitos peitinhos e bundas em 3-D, "The Stewardesses" não tinha sexo explícito, apenas umas trepadas simuladas que não mostravam muita coisa.

Mesmo assim, para os padrões da época, ganhou certificação X (só adultos podiam entrar nos cinemas), e por causa disso só era exibido em alguns poucos cinemas exclusivamente para adultos - daquele tipo bem mal frequentado.

Foi aí que aconteceu um fenômeno até hoje inexplicável: o filme virou um campeão de bilheteria tão grande que os produtores resolveram tirá-lo de cartaz e cortar algumas cenas mais "ousadas" para conseguir uma censura mais baixa e poder lançá-lo em mais cinemas.


Novas cenas foram filmadas, dando origem a pelo menos QUATRO montagens diferentes, com mais ou menos sexo (inclusive uma versão reeditada em 1981 que teve cenas de sexo explícito enxertadas)!!!

Assim, "The Stewardesses" ficou anos em cartaz pelos Estados Unidos, foi o sexto filme mais lucrativo do ano de 1971 e fez uma verdadeira fortuna: custou apenas 100 mil dólares e arrecadou mais de 30 MILHÕES nos cinemas! Segundo algumas fontes, se os valores fossem atualizados pela inflação, este pornô softcore continuaria sendo o filme em 3-D mais lucrativo de todos os tempos, batendo até mesmo "Avatar" na relação custo-benefício!!!


Um outro filme erótico de 1969, que de certa forma foi ofuscado pelo sucesso de "The Stewardesses", é "Swingtail", de Dave Shane. Algumas fontes indicam que esta produção era, originalmente, pornô (com sexo explícito), mas as versões atualmente em circulação ficam no território do softcore.

O filme mostra um produtor de cinema que resolve filmar as fantasias sexuais da sua namorada (interpretada por Alice Noland), e estas são exibidas com efeitos tridimensionais. Muitos espectadores devem ter ficado frustrados com a frase exagerada no cartaz ("Você é parte da ação!"), já que não é para tanto...

Com a chegada da década de 70, as produções softcore foram ficando, digamos, mais liberais, mais calientes. O sucesso de pornôs explícitos como "Garganta Profunda" e "Atrás da Porta Verde" (ambos de 1972) levou vários produtores a explorarem o sexo hardcore - inclusive em 3-D.

Antes, para economizar, eles resolveram simplesmente enxertar closes de penetração (com outros atores e atrizes) em filmes eróticos que já estavam prontos, para capitalizar em cima do sucesso de "Garganta Profunda" e cia.

Uma das produções originalmente softcores que virou hardcore à força é "A Touch of Sweden" (aka "The Chamber-Mades"), produção norte-americana de 1971 dirigida por Joseph F. Robertson e estrelada pela voluptuosa estrelinha sueca Uschi Digard, no papel de uma enfermeira européia fazendo turismo sexual pelos Estados Unidos.

Originalmente, "A Touch of Sweden" ficava apenas nos peitos e bundas em 3-D; alguns anos depois, os distribuidores enxertaram umas cenas hardcore com outros atores, mudaram o nome do filme para "Pastries" e o relançaram sem nenhum efeito de três dimensões, mas com putaria explícita.

"Prison Girls", de 1972, é um dos únicos (se não o único) filmes WIP em 3-D. Foi dirigido pelo especialista no subgênero "mulheres na prisão" Tom DeSimone, que depois assinaria vários pornôs hardcore para o público gay com o pseudônimo "Lancer Brooks" (além do slasher "Noite Infernal", com Linda Blair, em 1981).

Não há sexo explícito em "Prison Girls", apenas o tradicional sexo simulado e os peitos e bundas em 3-D (nesse caso, também os peitões da sueca Uschi Digard, uma das grandes musas da sacanagem tridimensional!).

Ainda no terreno do softcore temos "Three Dimensions of Greta", considerado o primeiro filme em 3-D produzido na Inglaterra (e inexplicavelmente relançado posteriormente com o título "FOUR Dimensions of Greta"!!!).

Com direção de Pete Walker e estrelado por mais uma deusa sueca, Leena Skoog, o filme narra a busca de um repórter alemão (Tristan Rogers) por uma jovem que desapareceu, a tal Greta do título.

Durante a "investigação", como se fosse uma versão erótica de "Cidadão Kane", o herói ouve diversos depoimentos sobre a vida devassa da garota, apresentados em flashbacks em preto-e-branco e em 3-D (o resto do filme é colorido e "normal").

Com direito, como é habitual, a muitos peitos saindo da tela em direção do espectador, além de vários outros objetos que são praticamente esfregados na lente da câmera para justificar o uso do efeito tridimensional, inclusive uma banana sensualmente oferecida por Greta, como você pode ver na foto abaixo.


Para fechar a sessão "softcore" desse dossiê, chegamos à famosa comédia erótica alemã "Liebe in Drei Dimensionen" (1973), ou "Love in 3-D", como ficou conhecido nos Estados Unidos. Esta produção dirigida por Walter Boos merece o status de clássico só por reunir um fantástico elenco de gostosas européias, como Ingrid Steeger, Elisabeth Volkmann e a musa sexploitation Christina Lindberg (de "Thriller - A Cruel Picture").


Há divergências, entre as várias fontes consultadas, sobre o tipo de sexo presente no filme. Algumas acreditam que ele foi concebido originalmente como filme erótico e depois teve cenas hardcore adicionadas na edição (com outros atores e atrizes trepando); outras defendem que era X-Rated desde o início. De qualquer forma, hoje pode ser encontrado em torrents nas versões 3-D e normal, com ou sem hardcore - a que eu vi não tinha sexo explícito.

Uma das grandes qualidades de "Love in 3-D" é que o diretor Boos tem plena consciência do uso "divertido", digamos, dos efeitos tridimensionais, enchendo o filme com cenas em que as atrizes literalmente esfregam os peitões ou bundas na lente da câmera - e, consequentemente, no rosto do espectador. Pode-se dizer que ele foi um dos poucos que entendeu para que realmente serve a combinação 3-D + sacanagem.



A TERCEIRA DIMENSÃO DO SEXO
Como vimos, até então tivemos um montão de produções eróticas em 3-D, algumas das quais tiveram cenas de sexo explícito adicionadas DEPOIS por distribuidores inescrupulosos. Nesses termos, qual é, afinal, o primeiro pornô hardcore produzido ORIGINALMENTE em 3-D???

Bem... Até que surjam novas informações (alô, Hugo Malavolta!), tudo leva a crer que a "honra" pertence a "Ram Rod", um obscuro PORNÔ GAY de 1973!!! Tão obscuro, diga-se, que não tem nem cadastro no IMDB. Sendo assim, não se sabe quem dirigiu ou quem produziu. O que rola pela internet são recortes de jornais da época com a publicidade de cinema e até uma crítica do filme.


A propaganda vendeu "Ram Rod" como "The World's First Male 3-D", enquanto a crítica informa que o filme consiste em quatro cenas homossexuais protagonizadas por George Payne, Bruce Morgan, Ray Jackson, John Traynor e Allen Sarefield. O título da crítica lembra manchetes do extinto Notícias Populares: "Pintos em 3-D não ajudam se o filme for ruim"!!!

Ainda nesta crítica, o jornalista faz questão de nos informar que, em determinada cena, o ator "mira a câmera" e o resultado vem contra o espectador em três dimensões!!! Ou seja, o tipo de coisa que faria a plateia hetero abaixar a cabeça ou tentar desviar, mas justamente o efeito que se espera em um pornô 3-D, ora pois!


Só para constar, existem pelo menos mais dois filmes hardcore gays com pintos e gozadas tridimensionais: "Heavy Equipment" (1977), e "Manhold" (1978), dirigido pelo mesmo cara (David E. Durston) que fez o violento filme de horror "I Drink Your Blood" oito anos antes!!! Ironicamente, ambos trazem, na divulgação, a frase "The first gay film in 3-D"...


Entrando no terreno dos pornôs hetero, no ano seguinte temos "The Playmates in Deep Vision 3-D" (1974), dirigido por Stephen Gibson com o pseudônimo "Pierre La France".

Também produtor, Gibson percebeu o potencial do sexo tridimensional como chamariz de público, desenvolveu um sistema próprio de filmagem (que batizou de "DeepVision") e assinou outros pornôs com cenas em 3-D (softcore e hardcore) nos anos seguintes: "Black Lolita" aka "Wildcat Women" (1975), "Hard Candy" aka "Lollipop Girls" aka "M 3-D - The Movie" (1976) e "Hot Skin" aka "Blonde Emmanuelle in 3-D" (1977).

"The Playmates..." traz várias figurinhas carimbadas no ramo de sacanagem da época, como Becky Sharpe e Rene Bond, e, como é de praxe, existe em diferentes versões, com mais ou menos sexo, dependendo do ano e do cinema em que foi (re)lançado. A trama segue os passos de uma jornalista que estuda o comportamento sexual de casais e solteiros, mero pretexto para peitos e pintos em três dimensões.


Em "Hard Candy", uma fábrica de doces é salva da falência graças à invenção de um pirulito com propriedades afrodisíacas. No cartaz desse filme já se faz notar a picaretagem engana-trouxa, com a gigantesca chamada "Wide Screen Color 3-Dimension Super 70mm Stereo", quando na verdade o filme foi feito em 35mm e com som mono!!!

Finalmente, "Hot Skin" ou "Blonde Emmanuelle in 3-D" é mais conhecido por este segundo título, tendo inclusive uma impagável tagline no pôster: "She is back! She is blonde! She's in 3-D!".

É óbvio que o filme de Gibson (dessa fez usando o pseudônimo "Giorgio Ferrari") não tem nada a ver com a série "Emmanuelle" oficial, mas curiosamente os realizadores desta franquia renderam-se às três dimensões alguns anos depois, em 1984, quando lançaram "Emmanuelle IV" em 3-D!!!

A atriz pornô Serena interpreta a "Blonde Emanuelle", e o elenco ainda conta com o famoso John Holmes (imortalizado pelo tamanho do seu pinto, e fico até com medo de imaginar isso em 3-D!!!) e com a musa tridimensional Uschi Digard (sim, de novo!).

Lançado em 1976, "Funk" seria apenas uma compilação de cenas hardcore em 3-D com os casais Nikki Hilton, Alex Mann, Alan Marlow e Annie Sprinkle, e foi produzido mais para testar um novo sistema, o "Super Touch 3-D", criado pelo diretor, roteirista e produtor Michael Findlay (usando o pseudônimo "Jullian Marsh").

Se você não ligou o nome à pessoa, Findlay era figurinha carimbada no círculo exploitation do período, tendo produzido e dirigido, entre outros, o infame "Snuff", que durante anos foi considerado um filme maldito com uma suposta cena real de morte (a alcunha "snuff movie" para esse tipo de obra surgiu por causa dessa lenda urbana, mas não, a cena não era real).

O cinéfilo Hugo lembra que a carreira de Findlay encerrou prematuramente antes que ele pudesse explorar melhor seu sistema 3-D (usado em apenas outras duas produções além de "Funk"): no ano seguinte (1977), ele foi um dos passageiros mortos na queda de um helicóptero em Nova York! Mas sua viúva, Roberta Findlay, continuou dirigindo filmes baratos (e geralmente ruins) até o final da década de 80.

Em 1977, a dupla Daniel L. Symmes e Joseph Tebber dirigiu "The Starlets", pornô hardcore sobre as aventuras sexuais dos frequentadores de um bordel em Hollywood. O filme tem no elenco John Leslie, Spring Finlay, Laurien Dominique e Monique Cardin.

Bem, esqueça tudo que você leu até agora: para algumas das fontes consultadas, "The Starlets" é o primeiro filme pornô hardcore, com cenas de penetração e tudo mais, produzido originalmente em 3-D, e o resto é resto.

Inclusive "The Starlets" ficou famoso quando Alvin "Al" Goldstein, redator da revista pornográfica Screw, escreveu: "É tão real que eu me senti como se estivesse traindo a minha esposa!". hahahahaha.


E é inútil seguir em frente... Tem tanto pornô em 3-D entre o final da década de 70 e a metade dos anos 80 que é incompreensível o fato de NINGUÉM nunca ter analisado o fenômeno a fundo - e chega a ser vergonhoso que a imprensa ainda caia no conto do suposto "primeiro pornô 3-D do mundo" que está sendo feito AGORA!

Só para continuar citando títulos mais conhecidos, temos ainda "The Capitol Hill Girls" (1977), de William J. Condon, sobre prostituição e chantagem em Washington, filmado com um suposto novo sistema chamado "LazerVision".

Temos o pornô francês "Le Pensionnat des Petites Salopes" (1982), lançado no resto do mundo com o título "Ménage à Trois", e que se notabiliza pela direção de Pierre B. Reinhard. Se não caiu a ficha, é o mesmo diretor do horror trash "A Revanche dos Mortos-vivos" (1987), provavelmente o único filme de zumbis com mortas-vivas lésbicas e semi-decompostas que estupram suas vítimas antes de matar!!!

Temos o pornô alemão "Supergirls for Love" (1983), dirigido por Walter Molitor, e que, segundo o especialista Hugo, chegou aos cinemas brasileiros com o título "Mulheres que Fazem em Terceira Dimensão" - e vá saber se passou em 3-D ou não...

Temos ainda "Mud Madness", pornô com... Ron Jeremy (e você consegue imaginar a pança do Ron Jeremy em três dimensões?!?), e "Sexcalibur", de Dinin Dicimino, um pornô "capa-e-espada" igualmente em 3-D, ambos produzidos e lançados em 1983.

Quando o interesse pelos efeitos tridimensionais perdeu a força, e os filmes pornográficos deixaram de ser produzidos em película para dar lugar à praticidade do videotape, foi necessário criar um novo sistema de 3-D.


Foi assim que surgiu o "pulfritch 3-D", gerado por computador e que cria uma imagem multiplicada como aquela de "Princesa Orgasma e a Cama Mágica". Descobri, também graças à ajuda do Hugo Malavolta, que os óculos 3-D tradicionais (com lente azul e vermelha) NÃO funcionam com essa técnica, que requer um outro óculos especial.

Muitas produções pornô feitas direto para o mercado de vídeo usaram o pulfritch além de "Princesa Orgasma...", como "Girls: Wet & Wild in 3-D", de 1993.


CONCLUSÃO (OU "INCONCLUSÃO"?)
Chego ao fim desse longo artigo com muitas dúvidas. Afinal, qual é o VERDADEIRO primeiro filme pornô em 3-D da história do cinema? Provavelmente nunca saberemos.

Filmes pornô eram (ainda são?) praticamente descartáveis nos anos 70-80: depois de um tempo máximo de exibição nos cinemas, os negativos voltavam para os distribuidores ou produtores e não raras vezes iam direto para o lixo. Muita coisa se perdeu e sua existência só é conhecida através de anúncios em jornais e reportagens de revistas. Outras provavelmente estão esquecidas para sempre.

O enciclopédico Hugo Malavolta questiona se o pornô gay "Ram Rod" foi mesmo o primeiro X-Rated 3-D: segundo ele, há grandes chances de a "honra" ser de "Secrets of Ecstasy '72", feito um ano antes, e mais uma daquelas produções obscuras sem ficha no IMDB e sem referências sobre elenco e equipe técnica.

"Ecstasy '72" era um falso documentário sobre sexualidade, de um subgênero que ficou conhecido como "white coater". Eram filmes sensacionalistas, produzidos principalmente nos EUA e na Suécia entre as décadas de 60 e 70, que geralmente traziam cenas de sacanagem, às vezes sexo explícito. Mas sempre com o pretexto de ser um "documentário sério" sobre sexualidade, inclusive com narração de um "médico" (obviamente um ator). Por causa desse suposto objetivo "educativo", esses filmes de putaria conseguiam exibição nos cinemas, mesmo quando pornôs hardcore ainda eram proibidos.

Pois algumas fontes alegam que "Ecstasy' 72" tinha algumas cenas de sexo explícito em 3-D no meio do material "educativo", e isso bastaria para dar-lhe a alcunha de "primeiro X-Rated tridimensional". Em todo caso, como tanto ele quanto "Ram Rod" estão atualmente perdidos e na obscuridade, provavelmente jamais saberemos de quem foi a honra de ser o primeirão.

E se não chegamos a uma conclusão nessa história toda, sempre é bom lembrar que os jornalistas e pesquisadores de hoje têm sua parcela de culpa em toda essa confusão. Afinal, eles compram uma jogada de marketing barata ("Estamos fazendo o primeiro pornô 3-D da história aqui na China!") e não vão atrás de pesquisar a história verdadeira.

Confesso que caí nesse mesmo comodismo ao escrever sobre o "Princesa Orgasma...". Já havia X-Rated tridimensional pelo menos 20 anos antes dele.

O problema é: se você ficar 15 minutos no Google fazendo buscas como "first 3-D porn", invariavelmente vai cair nas mesmas reportagens sobre o tal filme que estão fazendo agora. Tudo que veio antes é simplesmente ignorado, inclusive em sites gringos!

É inacreditável e é triste, mas a história está sendo esquecida, e a nova geração de jornalistas e pesquisadores parece não fazer muita questão de resgatá-la.

Este dossiê que você leu (ou só olhou as figuras) foi fruto do trabalho de uma semana de pesquisa praticamente braçal em sites sobre o assunto "3-D", porque o Google nem sempre nos dá tudo de mão beijada; e, claro, com a preciosa colaboração do distinto Hugo Malavolta, esta inesgotável banco de dados sobre o cinema mundial.

Deixo, portanto, esse dossiê - incompleto, muito provavelmente; inconclusivo, com certeza - para que o próximo interessado que fizer uma busca no Google descubra que, sim, tivemos filmes pornôs em 3-D antes de 2011, mesmo que toda a imprensa brasileira (mundial?) diga o contrário.
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